ESPORTES NÁUTICOS E TRANQUILIDADE NO IATE CLUBE GUAÍBA
Fonte: Jornal do Comércio
Fundado em 1930, clube náutico oferece série de opções para quem busca contato direto com o lago.
MARCO QUINTANA/JC
Igor Natusch
Quem passa de carro pela discreta entrada no número 95 da avenida Guaíba, na Zona Sul de Porto Alegre, talvez nem mesmo se dê conta da placa indicando que ali é a sede do Iate Clube Guaíba. Do outro lado da cancela, contudo, há uma série de facilidades para os apaixonados por esportes náuticos e por quem busca uma relação mais próxima com o lago. Mais antigo clube náutico do Estado em atividade, levando em conta a data de fundação, o espaço oferece estrutura e manutenção para proprietários de lanchas e velas, além de um ambiente tranquilo para os associados e suas famílias.
Roberto Araújo dos Santos, vice-comodoro de administração do Iate Clube Guaíba, faz parte do grupo que vem comandando o espaço há mais de duas décadas. Advogado e funcionário aposentado da Polícia Federal, ele entrou para o clube atendendo a sugestão de colegas, como forma de aliviar o estresse, e acabou se apaixonando pelo espaço. O vice-comodoro explica que a vida social do clube está toda em torno das embarcações. “Pelos meus cálculos, quase 100% dos nossos associados têm barcos, o que difere de outros clubes, onde, às vezes, menos da metade têm barcos e a maioria têm como principal objetivo fazer uso das instalações”, afirma.
O Iate Clube mantém atividades de vela adaptada para pessoas com necessidades especiais, além de ministrar aulas para aprendizes. A instituição também oferece uma escola de formação para arrais amador, habilitação necessária para condução de embarcações em águas interiores. O curso é licenciado pela Marinha, responsável por conceder, posteriormente, a certificação. O clube também tem uma tradição respeitável na esfera competitiva, com competidores olímpicos e velejadores que participaram de disputas internacionais.
Além disso, os associados contam com vários outros espaços disponíveis. O Iate Clube Guaíba tem um restaurante fechado para o público externo, que atende apenas membros do clube e convidados, tanto no dia a dia quanto em ocasiões festivas. Há também churrasqueiras, quiosques e demais espaços para festas e eventos. O chamado Paradouro 95, em especial, fica bem na beira do lago e tem uma visão privilegiada do pôr do sol no Guaíba. O clube funciona das 8h30min à 1h, fechando apenas nas segundas-feiras.
Para o futuro, a perspectiva é de crescimento. Está aprovada, junto ao governo federal, uma linha de crédito para o estabelecimento de uma estrutura de energia voltaica, que será distribuída para a rede geral. A expectativa é que, com o abatimento nas contas de luz, sobre mais dinheiro para melhorias estruturais, como a construção de trapiches em concreto armado flutuante.
No momento, a entidade conta com 520 sócios, dos quais 330 são ativos. Santos garante que a ideia é nunca ir além dos 400 associados, como forma de manter a qualidade de serviços e instalações. Os valores das mensalidades variam entre R$ 700,00 e R$ 2 mil, dependendo do tipo de barco e da quantidade de pés que ele ocupa dentro d’água. A entrada é por indicação, e há uma período de carência de três meses, quando o comportamento do novo associado é avaliado pelos demais.
Para quem se torna membro em definitivo do Iate Clube Guaíba, porém, o vice-comodoro garante um espaço tranquilo e divertido. “É uma grande família, um ambiente agradável, e todo mundo se dá bem, dos administradores aos funcionários. Buscamos prestar um serviço bacana para os associados, que investem para ter um espaço familiar e agradável, com qualidade e estrutura”, anima-se Santos.
Leopoldo Geyer, um visionário da vela gaúcha
O Iate Clube Guaíba nasceu da iniciativa de Leopoldo Geyer, um dos nomes mais emblemáticos da vela gaúcha. À época, ele era proprietário da Casa Masson, na Marechal Floriano, tradicional ponto especializado em relógios e joias. O clube surgiu em 1 de maio de 1930, com a ideia de ser um espaço esportivo para os funcionários da loja. Em 1940, o grêmio ganhou a primeira sede náutica, na avenida Guaíba, e passou a admitir não funcionários em seu quadro de sócios. Seis anos depois, quando já estava na Praia de Belas, o clube adotaria o nome atual. A sede onde hoje fica o Iate Clube Guaíba foi cedida no início dos anos 1960.
Fascinado pelos esportes náuticos desde a adolescência, Geyer foi figura fundamental no desenvolvimento do esporte no Estado. É responsável por uma excursão a Montevidéu, no Uruguai, ocorrida em 1937 e vista por estudiosos como a provável primeira participação de brasileiros em um campeonato internacional de vela. Participou de clubes náuticos no Rio de Janeiro e em São Paulo, além de fundar a Federação de Vela e Motor e a Sociedade dos Amigos da Vela, pioneira em facilitar o acesso às embarcações para pessoas de poucas posses. Em 1934, abriu o Veleiros do Sul, e foi responsável também pelo nascimento do Clube dos Jangadeiros, no final de 1941. O último surgiu como desdobramento do Veleiros, e Santos conta uma história curiosa sobre o caso.
Além de visionário, Geyer teria lá suas fraquezas – entre elas, as aventuras com mulheres. Um dia, o empresário foi ao Veleiros com uma namorada, o que causou reclamações entre os demais sócios. Irritado, o pioneiro saiu brigado com os ex-colegas, fundando o Jangadeiros em uma chácara adquirida por ele. “Eu brinco dizendo que o Jangadeiros é fruto de um adultério. Os caras lá não gostam muito”, comenta Santos, rindo.